Doce lar! Nessas palavras encontra-se um som que indica claramente como deve ser um lar, que o ser humano constitui aqui na Terra.
A expressão já é bem certa, como tudo o que a palavra dá aos seres humanos, contudo, também aqui o ser humano torceu o sentido claro e o arrastou consigo na decadência, na lama.
Despojou-se assim de um apoio após outro, que lhe podiam dar segurança na existência terrena, e tudo quanto havia de puro na origem foi fortemente turvado pelas conceituações erradas das criaturas humanas e muitas vezes até criminosamente transformado num charco, que evoluiu numa vala comum das almas.
Disso faz parte também o conceito de família em sua forma de até agora, que tão freqüentemente é louvado e salientado como algo nobre e íntegro, de elevado valor, como algo que proporciona ao ser humano grande apoio, que o fortalece e beneficia, tornando-o um respeitável cidadão terreno, que, seguro e protegido, está capacitado para a luta pela existência, como hoje os seres humanos gostam de denominar cada vida terrena.
Mas como sois tolos, ó seres humanos; como é estreita e limitada vossa visão sobre tudo, principalmente sobre aquilo que se refere a vós e à vossa peregrinação através das Criações.
Exatamente o conceito de família tido por vós em tão alta conta é uma daquelas armadilhas que, com grande precisão, exige numerosas vítimas e também as consegue, pois muitas pessoas são, sem a menor consideração, arremessadas para dentro através das leis não formuladas dos hábitos humanos e retidas nelas por milhares de braços, até que, atrofiando-se animicamente de modo lastimável, se entrosem indefesas na massa inerte que as arrasta para as profundezas de apagada impessoalidade!
E esquisito: justamente todas aquelas pessoas que, com tenaz energia, procuram se agarrar a tais formas falsas, ainda imaginam que com isso sejam aprovadas pelo juiz de Deus como sendo especialmente valiosas. Eu, porém, vos digo, devem ser consideradas como os piores elementos nocivos que impedem o desenvolvimento e o fortalecimento de muitos espíritos humanos, ao invés de favorecer!
Abri amplamente, pois, por fim, os portais de vossa intuição, para que vós próprios possais reconhecer, agora, o errado que se aninhou em todas as coisas e costumes que o ser humano formou para si, pois ele os formou, sim, sob o domínio do raciocínio torcido, orientado por Lúcifer!
Quero tentar dar uma imagem que possa levar-vos mais próximos da compreensão. Ela está intimamente ligada ao grande e automático circular da Criação, que, impulsionado pela lei do movimento, deve manter tudo sadio, porque somente no movimento certo podem permanecer o vigor e a força.
Consideremos, pois, como deve ser na Terra, e não como é agora. Então, todo o espiritual na Terra se assemelharia a um líquido límpido que se encontra em constante movimento circular e assim permanece, a fim de que não engrosse ou até mesmo enrijeça.
Pensai também num riacho alegremente murmurante. Como é deliciosa a sua água, como é refrescante e vivificante, oferecendo refrigério a todos os sedentos e com isso trazendo alegrias e proporcionando bênçãos no percurso que segue
Se, contudo, dessa água, aqui e acolá, uma pequena parte se separa, ao saltar de modo independente para o lado, então aquela parte que se separou fica, na maioria dos casos, logo retida e inerte, qual pequena poça, que, em sua separação, perde rapidamente o frescor e a limpidez, exalando mau cheiro, porque, sem movimento, pouco a pouco se deteriora, devendo tornar-se ruim e podre.
Exatamente assim é com o vibrar espiritual dos seres humanos terrenos. Enquanto este circule harmoniosamente, de acordo com a lei do movimento, sem impedimentos ou pressa, desenvolver-se-á também, abençoadamente, alcançando uma força inimaginada, trazendo dessa forma continuamente ascensão, porque é favorecido ao mesmo tempo por todas as espécies de vibrações da Criação inteira, ao passo que nada se lhe opõe, mas sim tudo se liga alegremente, fortalecendo de modo auxiliador a atuação.
Assim foi o vibrar outrora, há longos, longos tempos, e com desenvoltura saudável e naturalidade cada espírito humano ascendia sempre mais para cima, desenvolvendo-se alegremente no reconhecimento. Agradecido, absorvia todas as irradiações que lhe podiam ser enviadas auxiliadoramente da Luz, e assim fluía uma corrente refrescante de forças espirituais da água viva para baixo, até a Terra, e dela, em forma de agradecida adoração e como efluxo do contínuo vivenciar cheio de paz, voltava novamente para cima, para a fonte de conservação.
A conseqüência, por toda a parte, foi um prosperar maravilhoso e, como um jubiloso cântico de louvor, no alegre e desimpedido circular do movimento harmonioso, soavam, pela Criação inteira, acordes majestosos de pureza não turvada.
Assim foi outrora, até que se iniciou a torção dos reconhecimentos, através da formação de falsos conceitos básicos, em decorrência da vaidade dos seres humanos, trazendo com isso desordens no maravilhoso entrelaçamento de todas as irradiações da Criação, que nas suas constantes intensificações terão de forçar por fim o descalabro de tudo aquilo que se ligou estreitamente a eles.
A tais desordens pertence, entre muitas outras coisas, também o atual rígido conceito de família em sua forma errada, de inacreditável expansão.
Precisais imaginar isso apenas figuradamente. No vibrar e circular harmonioso do espírito em ascensão, que irradiava refrescantemente ao redor da Terra, perpassando-a luminosa e abençoadamente, em conjunto com a entealidade, e elevando-a consigo na forte saudade da Luz, formaram-se repentinamente interrupções, devido a pequenas condensações que circulavam conjuntamente apenas de modo indolente. Tal como numa sopa que está esfriando, onde a gordura se separa ao coagular. É para vós talvez mais compreensível ainda, se eu comparar o processo com o sangue doente que, engrossando-se aqui e acolá, pode apenas ainda preguiçosamente fluir pelo corpo, impedindo assim o perpulsar indispensável e conservador.
Nessa imagem reconheceis melhor o fundamental e sério significado do pulsar espiritual na Criação, o qual encontra no sangue do corpo terreno, como uma pequena cópia, a sua expressão mais grosseira. Para vós é mais claramente compreensível do que a imagem da sopa e do riacho murmurante.
Como comparação adicional também pode ainda servir a de que numa máquina bem lubrificada sejam lançados grãos de areia estorvantes.
Logo que o conceito de família, em si natural, se desenvolve doentia e erradamente, ele tem de atuar de modo obstrutivo e rebaixador no indispensável vibrar da lei do movimento alegre em direção às alturas, pois o atual conceito de coesão familiar tem como fundamento apenas a educação e a conservação de vantagens materiais e também comodidades, nada mais.
Assim se originaram, pouco a pouco, os aglomerados familiares que sobrecarregam e paralisam todo o vibrar espiritual, e que em suas esquisitas espécies nem podem ser denominados diferentemente, pois aqueles que a isso pertencem atam-se mutuamente, penduram-se um ao outro, formando assim um peso que os mantém embaixo e os arrasta cada vez mais para o fundo.
Tornam-se dependentes uns dos outros e perdem gradualmente a individualidade específica, o que os caracteriza como espirituais e por essa razão também os compromete nisso.
Com isso afastam descuidadamente o mandamento da vontade de Deus destinado a eles e se tornam uma espécie de alma coletiva, algo que, devido a sua constituição, nunca poderão ser na realidade.
Cada um se intromete no caminho do outro, querendo muitas vezes até determinar, e assim amarra fios indestrutíveis e ligadores, que os agrilhoam uns aos outros, oprimindo-os.
Dificultam o indivíduo, no despertar de seu espírito, a se desligar disso e seguir sozinho seu caminho, no qual pode se desenvolver e o qual também lhe está traçado pelo destino. Assim, torna-se-lhe impossível libertar-se de seu carma, para a ascensão de seu espírito, desejada por Deus.
Tão logo ele apenas queira dar o primeiro passo no caminho para a liberdade de seu espírito, o qual será o certo só para ele e sua maneira de ser, não, porém, simultaneamente para todos aqueles que se denominam membros da família, imediatamente se levantam gritarias, advertências, pedidos, recriminações, ou também ameaças de todos aqueles que assim procuram puxar de volta esse “ingrato”, para o domínio de seu amor familiar ou de suas concepções!
O que não se faz nesse sentido, o que não se argumenta, principalmente quando se trata das coisas mais valiosas que um ser humano possui, como a força de resolução de sua livre vontade, no sentido espiritual, que lhe foi dada por Deus e também necessária, pelo que unicamente ele, e ninguém mais, será levado à responsabilidade pela lei da reciprocidade.
É da vontade de Deus que o ser humano se desenvolva, transformando-se incondicionalmente em uma personalidade própria, com a mais pronunciada consciência de responsabilidade para com o seu pensar, seu querer e seu atuar! As possibilidades, porém, para o desenvolvimento da personalidade própria, para o fortalecimento de uma capacidade autônoma de decisão e, acima de tudo, também a necessária têmpera do espírito e a conservação de sua mobilidade para um contínuo estado de vigilância, o que somente pode surgir como uma conseqüência do estado de independência, isso sucumbe totalmente no tolhido conceito de família. Ele embota, asfixia o brotar e o alegre florescer do mais precioso no ser humano, que, aliás, o caracteriza ante as outras criaturas de matéria grosseira como ser humano, a personalidade própria, para o que a origem espiritual o capacita e destina.
Ela não pode chegar ao desenvolvimento, pois se o conceito de família for de maneira deformada, apresentando apenas exigências de direitos na realidade inexistentes, então muitas vezes se transforma num inaudito tormento, rompe a paz e destrói qualquer felicidade. A conseqüência é que, por fim, toda a força para a ascensão se dissipa.
Chamai somente aquelas pessoas que já tiveram de sofrer com isso, atrofiando-se animicamente; serão massas dificilmente calculáveis!
E quando, através do conceito de família, o amor dos seres humanos terrenos, ou o sentimento que os seres humanos denominam amor, sopra benevolentemente, então não é muito melhor, pois aí se procura sempre tornar tudo o mais cômodo possível ao indivíduo, poupando-lhe justamente aquilo que obrigaria suas forças espirituais ao desabrochamento... por amor, cuidados ou dever familiar.
E tais pessoas, às quais cada caminho é aplainado, freqüentemente são invejadas e, por isso, talvez até odiadas! Na realidade, porém, são apenas dignas de lástima, pois o amor assim erradamente dirigido ou os costumes de um conceito de família erradamente aplicados, nunca são de se considerar como benefício, pelo contrário, atuam como um rasteiro veneno que, com infalível certeza, não permite desabrocharem as forças dessas pessoas, apenas enfraquecendo assim os seus espíritos.
É tirada dos seres humanos a temporária pressão, prevista na evolução natural, a qual provoca o desabrochar de todas as forças espirituais, oferecendo exatamente com isso o melhor e o mais seguro auxílio para um desenvolvimento espiritual, como graça do onisciente Criador, auxílio esse que encerra grande bênção para a conservação e para todos os progressos.
O conceito de família, conhecido e valorizado hoje por todos, é, em seu significado mais amplo, como um perigoso sedativo para cada espírito humano, que o cansa e paralisa. Segura e impede a necessária ascensão do espírito, porque aos membros individuais é afastado do caminho exatamente tudo aquilo que lhes pode auxiliar, a fim de se fortalecerem. São criadas e cultivadas plantas de estufa, espiritualmente cansadas, mas não espíritos fortes.
São milhares as espécies de hábitos prejudiciais e estorvantes que o conceito de família erradamente aplicado acarreta como conseqüências más. Deveis aprender a reconhecê-las mui rápida e facilmente, quando vos tiverdes tornado aptos a considerar tudo do ponto de vista certo, que terá de trazer vida e movimento para a massa até agora inerte dos aglomerados familiares paralisantes, que se revolvem, de modo represante e obstrutivo, no circular automático da Criação desejado por Deus e no movimento sadio do espírito, paralisando e envenenando todo o radiante vigor, enquanto se prendem, concomitantemente, com milhares de garras, em volta de espíritos humanos que se esforçam para o alto, a fim de que estes não lhes escapem nem tragam, na rotina cotidiana, qualquer inquietação que tivesse de perturbá-los em sua vaidosa presunção.
Vereis com espanto como vós próprios ainda vos encontrais presos em muitos desses fios, qual uma mosca na teia de uma aranha mortífera.
Se apenas vos movimentardes, se tentardes vos libertar disso para atingir vossa autonomia espiritual desejada por Deus, uma vez que também tereis de assumir sozinhos a responsabilidade, vereis então com horror de que maneira ampla já a tentativa de vosso movimento subitamente se faz valer, e só nisso podereis então reconhecer quão múltiplos são esses fios, nos quais os hábitos errados vos envolveram inexoravelmente!
Medo então cairá sobre vós com esse reconhecimento, que somente podeis encontrar no vivenciar. Mas o vivenciar tê-lo-eis rapidamente, irromperá ao redor de vós, tão logo vosso ambiente veja que tomais a sério a transformação do vosso pensar e sentir, que vosso espírito quer despertar e trilhar seus próprios caminhos que lhe estão previstos para o desenvolvimento, bem como, ao mesmo tempo ainda, para a libertação e redenção, como efeito recíproco de decisões anteriores.
Ficareis surpreendidos, sim, assustados, ao verdes que de bom grado estariam dispostos a perdoar-vos qualquer erro mais grosseiro, tudo, mesmo o pior, menos, porém, os esforços para vos tornardes livres espiritualmente e ter nisso convicções próprias! Mesmo se nem quiserdes falar a tal respeito, se deixardes os outros em paz, vereis que nada disso é capaz de alterar algo, porque eles não vos deixam em paz!
Se, no entanto, observardes e examinardes com toda a calma, então isso somente terá de fortalecer-vos no reconhecimento de todo o errado que os seres humanos trazem em si, pois mostram-no bem claramente na maneira como se apresentam no zelo subitamente despertado de reter-vos. Um zelo que só desabrocha devido à inquietação do não-rotineiro e que vem do impulso de continuar na costumeira mornidão e de nela não serem perturbados.
É o medo daquilo, de se verem repentinamente colocados diante de uma Verdade, que é completamente diferente daquilo em que até então se embalavam em indolente vaidade.
Eu esclarecerei na próxima dissertação, como deveis proceder nisso, se quiserdes vibrar harmonicamente, portanto auxiliando, na Lei da Criação.