O pecado hereditário surgiu do primeiro pecado original.
O pecado, isto é, a atuação errada, consistiu no cultivo exagerado do intelecto, com o conseqüente acorrentamento voluntário a espaço e tempo, e nos efeitos colaterais aí surgidos do exato trabalho do intelecto, tais como a cobiça, o logro, a opressão etc., que têm no seu séqüito muitos outros, no fundo, aliás, todos os males.
Esse fato teve, naturalmente, naqueles que se desenvolviam como seres humanos de puro intelecto, pouco a pouco, influências cada vez mais fortes na formação do corpo de matéria grosseira. Como o cérebro anterior, gerador do intelecto, foi se tornando unilateralmente cada vez maior por causa do esforço contínuo, era natural que nas procriações tais formas em processo de alteração se manifestassem na reprodução do corpo terreno e as crianças já nascessem trazendo consigo um cérebro anterior cada vez mais forte e desenvolvido.
Nisso, porém, encontrava-se, e encontra-se ainda hoje, a disposição ou a predisposição para uma força do intelecto que predomina sobre tudo o mais, o que encerra em si o perigo de, em seu total despertar, acorrentar o portador do cérebro não somente a espaço e tempo, isto é, a tudo quanto é de matéria grosseira terrena, de modo que o torna incapaz de compreender o que é de matéria fina e o que é puro espiritual, mas que também o emaranha ainda em todos os males que são inevitáveis devido à supremacia do intelecto.
O fato de trazer consigo esse cérebro anterior voluntariamente hipercultivado, no qual se encontra o perigo do puro predomínio do intelecto com todos os males colaterais inevitáveis, é o pecado hereditário!
Portanto, a transmissão hereditária física da parte atualmente designada como grande cérebro, devido ao seu intensificado desenvolvimento artificial, pelo que o ser humano traz consigo ao nascer um perigo que mui facilmente pode emaranhá-lo no mal.
Isso, porém, não lhe tira nenhuma responsabilidade. Essa lhe permanece; pois herda apenas o perigo, não o pecado propriamente. Não é necessário, em absoluto, que deixe predominar incondicionalmente o intelecto, submetendo-se a ele por isso. Pode, ao contrário, utilizar-se da grande força do intelecto como uma espada afiada para abrir caminho na agitação terrena, o qual a sua intuição lhe indica, a qual também é denominada voz interior.
Se, porém, em uma criança o intelecto é elevado a um domínio irrestrito através de educação e ensinamentos, então é retirada da criança uma parte da culpa, ou melhor, do conseqüente efeito retroativo devido à lei da reciprocidade, visto que essa parte atinge o educador ou mestre causador disso. A partir desse momento ele fica preso à criança, até que esta fique liberta dos erros e de suas conseqüências, mesmo que isso demore séculos ou milênios.
Tudo, porém, quanto uma criança assim educada fizer, depois de ter-lhe sido dada oportunidade séria para uma introspecção e conversão, atingirá somente a ela mesma nos efeitos retroativos. Semelhantes oportunidades se oferecem pela palavra oral ou escrita, por grandes abalos na vida ou por acontecimentos semelhantes, que obrigam a um momento de profundo intuir. Nunca deixam de vir. —
Seria inútil continuar a falar mais a esse respeito, pois sob todos os aspectos tratar-se-ia apenas de seguidas repetições, as quais teriam de se encontrar nesse ponto. Quem refletir sobre isso, a esse logo será tirado um véu dos olhos, terá solucionado nisso muitas perguntas em si mesmo.