Clarividência! Quanto esplendor se edifica em torno disso, e também quanto escárnio se ouve de um lado, ao passo que do outro se apresenta uma curiosidade temerosa; o resto é respeitoso silêncio. Os próprios videntes andam orgulhosos por aí, como pavões pelo galinheiro. Julgam-se agraciados por Deus e, em presunçosa humildade, sentem-se com isso elevados muito acima dos outros. Deixam-se de bom grado admirar por algo que na realidade lhes é tão estranho, como ao seu ambiente que muito pergunta. Envolvem sua ignorância real em sorriso inexpressivo, que deve aparentar sabedoria. É, no entanto, muito antes a expressão, que se tornou hábito, de seu despreparo diante de perguntas que exigem seu conhecimento próprio sobre o fenômeno.
Na realidade, não sabem mais do que o martelo e o cinzel, com os quais a mão do artista molda qualquer obra. No entanto, aqui também são novamente apenas os próprios seres humanos que querem transformar os seus semelhantes, dotados de capacidades clarividentes, em algo diferente do que realmente são, prejudicando-os com isso gravemente. Essa é a situação doentia que se encontra hoje por toda parte. Na maioria dos casos, esse “ver” é, sim, real, mas de modo algum algo de extraordinário que fosse digno de admiração e muito menos ainda de um calafrio, uma vez que na realidade deveria ser algo muito natural. Natural, porém, permanece apenas quando surge por si só e, também, for deixado calmamente ao verdadeiro desenvolvimento, sem ajuda alheia ou própria. Uma ajuda a tal propósito é tão condenável quanto seria uma ajuda por ocasião do falecimento corpóreo.
A vidência, porém, só ganha valor pelo autêntico saber. Só o saber, exclusivamente, consegue dar segurança a essa faculdade natural e, concomitantemente, também a sintonização certa com o rumo certo. Contudo, que isso falta à grande maioria de todas as pessoas clarividentes, pode-se desde logo verificar pelo ambicioso excesso de zelo, que traz consigo a arrogância, bem como pelo fato, desveladamente exposto e também prazerosamente expresso, de se considerarem sabidas.
E essa imaginação de saber é exatamente aquilo que impede tais pessoas não só de progredir mais, mas que até lhes traz a perdição, levando-as, em seus esforços, a desvios que conduzem para baixo, em vez de para cima, sem que aquele que se considera mais sabido perceba algo disso. Para tais, como maior auxílio, apenas pode advir, aqui e acolá, que sua clarividência ou clariaudiência pouco a pouco se enfraqueça e se perca. Isso é salvação! Através de qualquer circunstância favorável que suceda para eles, das quais há múltiplas.
Observemos agora as pessoas videntes e sua convicção errônea, a qual transmitem a outras pessoas. Exclusivamente a elas cabe a culpa de que até agora todo esse terreno pudesse ter sido lançado à lama como errado e não confiável.
O que tais pessoas vêem é, no melhor e mais avançado caso, o segundo degrau do assim chamado Além, caso se queira dividi-lo em degraus (não entendidos por planos) e nos quais o da Luz seria, mais ou menos, o vigésimo, apenas para se obter uma imagem aproximada da diferença. Os seres humanos, porém, que realmente conseguem ver até um segundo degrau, pensam realizar com isso algo colossal. Aqueles, contudo, que apenas podem ver até o primeiro degrau, enfatuam-se, na maioria dos casos, ainda muito mais.
Deve-se, pois, considerar que um ser humano, com seu dom máximo, na realidade pode observar sempre só até onde lhe permitir o seu próprio amadurecimento interior. Está atado aí ao seu próprio estado íntimo! Pela natureza da coisa, é-lhe simplesmente impossível ver algo diferente, ver realmente, que não seja sua própria igual espécie. Portanto, dentro do âmbito em que poderia locomover-se desimpedidamente depois de seu falecimento terreno. Não mais adiante; pois, no momento em que ele iria transpor aquele limite do Além, que lhe prescreve o estado de seu próprio amadurecimento, teria de perder imediatamente qualquer consciência do seu ambiente. Por si só, de modo algum conseguiria transpor esse limite.
Se, no entanto, sua alma, ao sair, fosse levada por alguém do Além, pertencente ao próximo degrau mais alto, logo ficaria inconsciente nos braços deste, ao transpor o limite para o degrau mais alto, isto é, adormeceria. Trazido de volta, poderia, apesar de seus dons clarividentes, lembrar-se sempre somente até o ponto em que sua própria maturidade lhe permitiu olhar acordado em redor. Portanto, não lhe adviria vantagem alguma, mas sim prejudicaria seu corpo de matéria fina.
Tudo quanto supõe ver mais além, sejam paisagens ou pessoas, jamais foi vivenciado por ele de modo realmente vivo, ou visto pessoalmente, mas trata-se aí apenas de imagens a ele mostradas e cuja linguagem também supõe ouvir. Jamais é a realidade. Tais imagens são aparentemente tão vivas, que ele mesmo não consegue distinguir entre o que apenas lhe é mostrado e o que realmente vivencia, porque o ato de vontade de um espírito mais forte pode criar tais imagens vivas. Acontece assim que muitos clarividentes e clariaudientes julgam encontrar-se muito mais alto, em seus passeios no Além, do que realmente estão. E daí se originam tão numerosos erros.
Igualmente constitui um grande engano quando alguns supõem ver ou ouvir Cristo; pois isso seria coisa impossível, devido ao enorme abismo decorrente da ausência de espécie igual, segundo as leis da Criação da vontade divina! O Filho de Deus não pode vir a uma sessão espírita, como quem vai a uma reunião de chá, a fim de ali, distinguindo, tornar felizes os visitantes, tampouco grandes profetas ou espíritos mais elevados.
No entanto, a nenhum espírito humano, ainda ligado à carne e ao sangue, é permitido movimentar-se tão segura e firmemente no Além, durante a vida terrena, para poder ver ou ouvir tudo desveladamente, e talvez, sem mais nem menos, até correr os degraus para cima. Tão simples a coisa não é, apesar de toda a naturalidade. Ela permanece ligada às leis incontornáveis.
E quando um clariaudiente ou um clarividente negligencia suas tarefas terrenas, por somente querer penetrar no Além, perde mais do que com isso ganha. Quando lhe chegar então a hora para o amadurecer no Além, levará consigo uma lacuna que somente na Terra pode preencher. Por isso não pode subir mais, fica preso até certo ponto e tem de voltar a fim de recuperar o que perdeu, antes de poder pensar em uma continuação séria da escalada. Também aqui tudo é simples e natural, apenas sempre uma conseqüência indispensável do que ficou para trás, que jamais se deixa desviar.
Cada degrau de uma existência humana requer ser vivido realmente com toda a seriedade, com plena capacidade de recepção da respectiva época atual. Insuficiência nisso acarreta um afrouxamento que, no caminho seguinte, tem de se fazer sentir cada vez mais, produzindo finalmente uma ruptura com a conseqüente ruína, caso não se volte a tempo, reparando o local defeituoso mediante renovado vivenciar, para que este se torne firme e seguro. Assim é em todos os fenômenos. Infelizmente, porém, o ser humano adquiriu o hábito doentio de estender a mão sempre além de si mesmo, porque julga ser mais do que realmente é.