Quem não conhece estas palavras tão significativas, que Jesus de Nazaré pronunciou quando pendia na cruz. Uma das maiores intercessões que alguma vez foram pronunciadas. De modo nítido e claro. Todavia, permaneceu-se durante dois milênios diante destas palavras sem compreendê-las. Foram interpretadas unilateralmente. Apenas naquela direção, que parecia agradável aos seres humanos. Não houve um sequer que levantasse sua voz em prol do verdadeiro sentido e o bradasse com toda a clareza à humanidade, principalmente aos cristãos!
Contudo, não apenas isso. Todos os acontecimentos abaladores na vida terrena do Filho de Deus, devido à unilateralidade na transmissão, foram colocados sob uma luz errada. Isso, contudo, são erros que não somente o cristianismo apresenta, mas se encontram em cada religião.
Quando discípulos colocam o puramente pessoal do preceptor e mestre acima de tudo e bem em evidência, então, isso é compreensível, principalmente quando esse mestre é arrancado de modo tão brutal e repentino de seu meio, para então ser exposto, na mais completa inocência, ao mais penoso sofrimento, ao mesmo tempo ao mais grosseiro escárnio e, por fim, à mais dolorosa morte por martírio.
Tal coisa se grava profundamente nas almas daqueles que puderam conhecer o seu preceptor da maneira mais ideal na convivência em comum, e faz com que aquilo que é pessoal se coloque então à frente de todas as recordações. Algo assim é absolutamente natural. Mas a sagrada missão do Filho de Deus foi a sua Palavra, foi trazer a Verdade das alturas luminosas, a fim de assim mostrar à humanidade seu caminho para a Luz, que até então lhe esteve vedado, porque seu estado espiritual, em seu desenvolvimento, não lhe possibilitava antes seguir aquele caminho!
O sofrimento infligido pela humanidade a esse grande portador da Verdade fica aí completamente à parte!
Mas aquilo, que nos discípulos era evidente e natural, resultou na religião posterior em muitos e grandes erros. A objetividade da mensagem de Deus ficou bem em segundo plano diante do culto da pessoa do portador da Verdade, o que Cristo jamais quis.
Por tal motivo, patenteiam-se agora falhas no cristianismo, que levam ao perigo de um descalabro, se os erros não forem reconhecidos a tempo e, em confissão aberta, corrigidos corajosamente.
Não é de se esperar de modo diferente, senão que o menor progresso sério terá de tornar visíveis tais lacunas. Então, incontestavelmente, é melhor não se desviar delas, mas atacá-las corajosamente! Por que a purificação não haveria de partir da própria direção, de modo vigoroso e alegre, com o olhar aberto para a grande divindade! Agradecidos, grandes grupos da humanidade, como que libertados de uma opressão até agora talvez pressentida, porém nunca reconhecida, seguiriam o chamado que os conduz à Luz de jubilosa convicção! —
Ao seguir os hábitos daquelas pessoas, que se sujeitam às cegas ao domínio ilimitado de seu próprio intelecto e estreitam com isso fortemente a sua faculdade de compreensão, deu-se à vida terrena de Cristo valor igual ao da sua missão. Nisso, interessaram-se por questões de família e por todos os acontecimentos terrenos, até mais ainda do que pela finalidade essencial de sua vinda, que consistia em dar aos espíritos humanos amadurecidos esclarecimento sobre todo fenômeno real na Criação, onde, exclusivamente, encontram a vontade de Deus, que nela foi entretecida e, com isso, para eles garantida.
O trazer dessa Verdade até então desconhecida, unicamente, tornou necessária a vinda de Cristo à Terra. Nada mais. Pois sem reconhecer corretamente a vontade de Deus na Criação, ser humano algum consegue encontrar o caminho para a escalada ao reino luminoso, muito menos ainda segui-lo.
Ao invés de aceitar este fato simplesmente como tal, de se aprofundar na mensagem e de viver de acordo com ela, conforme repetida e insistentemente exigia o portador da Verdade, os fundadores da religião cristã e igrejas criaram como o principal dos fundamentos um culto pessoal que os obrigou a fazer dos sofrimentos de Cristo algo muito diferente do que foi na realidade.
Precisavam disso para esse culto! Daí resultou, por fim, mui naturalmente em sua evolução, um erro grave após outro, que não deixava reconhecer corretamente o caminho certo.
Somente a estruturação errada, por falta de objetividade, acarretou a deturpação de todo o acontecer. A naturalidade puramente objetiva teve, sim, de sucumbir no momento em que o culto principal tornou-se estritamente pessoal! Nisso surgiu o impulso de ancorar uma missão do Filho de Deus principalmente na vida terrena. Sim, na realidade, resulta uma necessidade para isso.
No entanto, que assim se procede erradamente, o próprio Cristo provou em todo o seu modo de ser. Mais de uma vez repeliu clara e incisivamente o pessoal em relação a ele. Sempre indicava para Deus-Pai, cuja vontade cumpria e em cuja força se encontrava e agia, em cada palavra e em cada ação. Ele explicava como, de agora por diante, os seres humanos deveriam aprender a olhar para Deus-Pai, mas nunca se referiu aí a si próprio.
Uma vez que nisso não se obedecia às suas palavras, não podia, finalmente, deixar de acontecer que se passasse a considerar o sofrimento terreno de Cristo como sendo necessário e desejado por Deus, até o rotulasse de missão principal de sua vinda à Terra! Segundo a concepção oriunda disso, ele veio das alturas luminosas apenas para sofrer aqui na Terra!
Como ele próprio não se carregara com uma culpa sequer, ficou como justificativa novamente apenas o único caminho: tinham de ser então os pecados alheios, que colocara sobre si, a fim de expiá-los por eles!
O que restava, então, senão continuar a construir dessa maneira sobre a base colocada.
Força nutridora e solo adequado deram então ainda a supervalorização íntima, já não mais tão desconhecida, e da qual a humanidade inteira padece. A conseqüência daquele grande pecado original, que fora dirigido contra o espírito, e que já repetidas vezes expliquei minuciosamente. Na avaliação excessiva do intelecto o ser humano só conhece a si próprio, não a seu Deus, para o Qual ele destruiu assim todas as pontes. Apenas poucos possuem ainda, aqui e acolá, precários pontilhões para o espiritual, os quais, porém, também só podem deixar pressentir bem pouco, mas nunca saber.
Por isso ninguém chegou ao pensamento correto e natural de separar totalmente da mensagem de Deus o sofrimento terreno de Cristo, como acontecimento à parte. De reconhecer todas as hostilidades, perseguições e torturas como os graves, mais brutais crimes, que realmente foram. É um novo e grande agravo enaltecê-los como necessidade!
Mui certamente esses sofrimentos e a morte torturante na cruz merecem luz irradiante da mais sublime glória, porque o Filho de Deus não se deixou apavorar ante tão sinistra acolhida pelos seres humanos ávidos por domínio e vingativos, o que, após o pecado original, era de se esperar, mas, apesar disso, por causa dos poucos bons, trouxe sua tão necessária mensagem da Verdade à Terra.
O ato é de se avaliar tanto mais elevado, porque realmente se trata apenas de uma pequena parte da humanidade que deseja se salvar dessa maneira.
No entanto, é novo ultraje contra Deus, quando os crimes de outrora dessa humanidade devem ser tão atenuados por meio de falsas pressuposições, como se as criaturas humanas aí tivessem sido apenas os instrumentos para uma realização necessária.
Devido a essa incorreção surge, por parte de muitas pessoas que pensam, a incerteza com relação às conseqüências do procedimento de Judas Iscariotes! Com toda a razão. Pois se a morte de Cristo na cruz era a necessidade para a humanidade, então Judas, com a traição, serviu de instrumento indispensável para isso, por conseguinte, não deveria, na realidade, estar sujeito à punição no sentido espiritual por isso. Mas a verdade sobre o acontecimento real afasta todas essas discórdias, cujo aparecimento justificado somente resulta na comprovação de que a acepção até agora mantida tem de estar realmente errada. Pois onde existe o certo, não há lugar para tais questões não esclarecidas, pelo contrário, o fenômeno completamente natural pode ser tomado em consideração por qualquer lado, sem deparar aí com nenhum obstáculo.
Deve-se, finalmente, ter agora a coragem de reconhecer nesse enaltecimento a covardia mantida acobertada apenas pela astúcia do intelecto preso à Terra, do maior inimigo de tudo aquilo que pode se elevar acima dele, conforme sempre se observa nitidamente em qualquer sujeito inferior. Ou como presunção disfarçada, que se origina da mesma fonte! É, pois, agradável poder imaginar ser avaliado tão precioso, que uma divindade, lutando para tanto, tome a si todos os sofrimentos, apenas para poder oferecer então ao homúnculo um lugar de honra no divino reino da alegria!
Assim é realmente a acepção fundamental, dita de forma nua e crua! Não tem outro aspecto, tão logo se arranque com mão firme as lantejoulas daquelas formas!
Que tal acepção possa originar-se somente da mais restrita limitação de compreensão a respeito de todos os fenômenos extraterrenos, certamente nem preciso ainda mencionar. É sempre de novo uma das graves conseqüências da glorificação do intelecto terreno, que impede toda a visão livre e ampla. Depois do pecado original, a adoração desse ídolo intelecto aumentou mui naturalmente de modo constante, até se desenvolver, pois, no anticristo terrenalmente poderoso ou, falando mais claramente ainda, em tudo quanto é antiespiritual! Isso, pois, hoje é nitidamente reconhecível, para onde quer que se olhe. Para tanto, não se necessita mais de uma visão apurada.
E visto que unicamente o espiritual pode proporcionar a ponte para a aproximação e para a compreensão de tudo quanto é divinal, então, a concessão da soberania ao intelecto terreno, à qual todas as ciências hoje se confessam orgulhosamente, nada mais é do que a declaração aberta de luta contra Deus!
Contudo, não somente as ciências, mas sim a humanidade inteira movimenta-se hoje sob esse signo! Mesmo cada um, que se denomina sério perscrutador, traz consigo esse veneno.
Por essa razão, não é antinatural que também a Igreja deva conter em si muito disso. Eis por que se imiscuiu tanta coisa na reprodução e nas interpretações de todas as palavras do Salvador, fato que tem sua origem unicamente na astúcia terrena do intelecto!
Essa é também a serpente que sempre de novo tenta o ser humano, da qual adverte a narração da Bíblia! Unicamente essa serpente da astúcia do intelecto coloca cada ser humano ante a decisão enganadora: “Teria Deus dito...?”
Tão logo fique entregue a ela, portanto, ao intelecto exclusivamente, qualquer decisão, ela escolherá sempre, como também é indicado de modo acertado na Bíblia, o que é hostil a Deus ou afastado de Deus, o puramente terrenal, o muito inferior, ao qual o próprio intelecto pertence, como flor deste. Por isso, ele não consegue compreender o que é mais elevado.
O ser humano recebeu o intelecto a fim de que este lhe dê, para cada vida terrena, em direção para baixo, um contrapeso para o puro espiritual que aspira para cima, com a finalidade de que o ser humano na Terra não paire somente em alturas espirituais, e esqueça com isso a sua missão terrenal. O intelecto deve também lhe servir para facilitar e para tornar mais cômoda toda a vida terrena. Antes de tudo, porém, para transferir o forte impulso pelo que é elevado, puro e perfeito, que reside no espírito como sua constituição mais intrínseca, para o restrito âmbito terrenal, e levá-lo à efetivação terrenalmente visível na matéria. Atuando como ajudante do espírito vivo, como seu criado! Não como quem decide, nem como quem tudo dirige. Deve auxiliar a criar possibilidades terrenas, portanto, materiais, para a concretização do impulso espiritual. Deve ser o instrumento e o servo do espírito.
Se, no entanto, for-lhe permitido decidir sozinho, como acontece atualmente, então não continua mais apenas como contrapeso, não mais como auxiliador, mas coloca no prato da balança de cada decisão somente o seu próprio peso, e esse terá mui naturalmente como conseqüência apenas o afundar, porque ele puxa para baixo. Outra coisa aí não pode suceder, uma vez que pertence à materialidade e a ela permanece fortemente atado, ao passo que o espiritual vem de cima. Ao invés de, então, auxiliando, ainda estender a mão para o espiritual, de modo a robustecer-se e engrandecer-se, repele a mão mais forte estendida para ele do espiritual e descarta-a tão logo tudo lhe seja entregue. Ele nem pode de outro modo, age aí apenas segundo as leis de sua própria constituição.
Mas, note-se bem, o intelecto terreno só é inimigo do espírito quando for colocado acima deste! Não antes. No entanto, se estiver sob o domínio do espírito, conforme está disposto por natureza, segundo a vontade do Criador, então ele permanece um criado fiel, que se pode apreciar como tal. Se, porém, é-lhe dado, em oposição às leis naturais, um lugar de regente, ao qual não tem direito, então ele oprime, como conseqüência imediata, tudo o que possa perturbá-lo, a fim de manter-se no trono emprestado. Fecha automaticamente os portais que, permanecendo abertos, deveriam lançar luz sobre suas deficiências e sua grande limitação.
Um retrato daqueles atos das pessoas que, em condições de vida ordenadas e sob boa condução, sentem crescer suas capacitações, superavaliam-nas e, na queda então, devido à incapacidade para algo mais elevado, lançam um povo à miséria e à calamidade. Assim como estas jamais podem chegar a um compreender, e procuram lançar sempre toda a culpa da própria incapacidade somente sobre o passado, perante si mesmas e perante os outros, tampouco o intelecto humano reconhecerá que jamais pode atuar no lugar do espírito superior, sem provocar os mais graves danos e, por fim, a ruína. Em tudo é sempre o mesmo quadro, idêntico acontecer em eterna repetição.
Reflita o ser humano apenas uma vez de modo sereno e claro a respeito desse fenômeno. Tudo se lhe tornará logo compreensível, devendo parecer também como o mais útil.
Essa circunstância fechou também para os fundadores de igrejas e religiões a cortina sobre a tão grande simplicidade da Verdade divina, estendeu um véu sobre cada possibilidade de uma compreensão acertada.
A humanidade não podia sobrecarregar-se com coisa mais terrível do que com esta restrição voluntária, a incapacidade de compreensão de tudo aquilo que se situa além do terrenal, portanto, da parte muito maior de todos os fenômenos. Isso, porém, situa-se literalmente acima de seu horizonte tão restrito.
Lute, pois, uma pessoa contra essa impenetrabilidade do muro. Logo terá de reconhecer como se confirma a palavra do poeta, que contra a estupidez mesmo deuses lutariam em vão!
Esse muro resistente só pode ser rompido de dentro para fora pelo próprio ser humano individual, por ter sido construído a partir de dentro. Mas não querem!
Por isso o falhar está hoje em toda parte. Para onde quer que se olhe, há um quadro da mais desoladora confusão e de muita miséria!
E, em cima do monte de escombros, encontra-se vazio, presunçoso, orgulhoso, o causador da confusão tremenda... o “homem moderno”, conforme ele próprio costuma denominar-se de preferência. O “progressista”, que na realidade regrediu constantemente! Exigindo admiração, autodenomina-se também ainda de “mero materialista”. —
Dói a cabeça, um asco brota, quando se co-vivencia tudo isso, quando se vê afundar junto tanta coisa boa que, em ambiente apropriado, teria prosperado, quando se vê tantos outros sofrerem por causa disso, e fervorosamente forma-se a oração: “Dê Tu um fim nisso, Senhor! Nós não o podemos!”
Acrescentam-se ainda a tudo isso as inúmeras cisões, o sempre crescente ódio mútuo, apesar da uniformidade da escravidão voluntária! Nem o empregador nem os empregados têm culpa disso, nem o capital nem a sua falta, nem a Igreja nem o Estado, nem as diferentes nações, mas tão-somente a sintonização errada das pessoas, individualmente, fez com que tudo chegasse a tanto!
Até mesmo os assim chamados perscrutadores da Verdade raramente se encontram agora no caminho certo. Nove décimos deles tornam-se meros fariseus, que olham criticando de modo arrogante os seus semelhantes, combatendo-se aí ainda com afinco. Tudo está errado! Terá de vir primeiro ainda a inevitável consumação de um fim terrível, antes que alguns ainda possam despertar desse sono.
A volta ainda é possível. A cada um! Mas em breve virá, finalmente, o “tarde demais” para sempre, contrário a todas as esperanças de tantos fiéis, que cultivam as acepções errôneas de que há necessidade, sim, de um período mais ou menos longo para a indispensável purificação, dependendo do próprio ser humano, todavia, que por fim seu caminho tem que conduzir, pois, novamente rumo à Luz, à alegria eterna, à felicidade da proximidade divina!
Esse pensamento é um consolo agradável, contudo, incorreto, não correspondendo à Verdade. —
Observemos mais uma vez com calma e lucidez, contudo, em traços largos, o grande processo evolutivo da Criação e das criaturas humanas, que a ela pertencem. Prestai atenção exatamente à lei primordial da igual espécie, que freqüentemente tenho explicado, incluindo tudo quanto ela encerra de imutáveis e indispensáveis conseqüências no acontecimento:
A materialidade, qual um grande campo de plantio, segue no gigantesco circular orbital na orla mais baixa da Criação toda, como a parte mais pesada. Desde a semente primordial, em constante movimento, desenvolvendo-se continuamente, cada vez mais se congregando, formando até os astros a nós visíveis, aos quais pertence esta Terra. Portanto, amadurecendo até a máxima florescência e frutificação, que corresponde ao nosso tempo, para então, na supermaturação vindoura, completamente por si só, segundo as leis da Criação, decompor-se novamente, dissolver-se na semente primordial que, prosseguindo, recebe continuamente a oportunidade de ligar-se e formar-se novamente. —
Assim o quadro global, serenamente observado de cima.
A materialidade em si nada mais é do que a matéria, que serve para o formar, para invólucros, e que somente chega à vida, quando o enteal não-material, que paira acima dela, perpassa-a e então, através da ligação, incandesce-a.
A ligação dessa matéria com o enteal não-material forma uma base para o desenvolvimento contínuo. Do enteal formam-se também todas as almas de animais.
Acima dessas duas divisões básicas, do material e também do enteal, encontra-se ainda, como divisão mais elevada da Criação, o espiritual. É uma constituição por si, conforme os meus leitores já sabem. Desse espiritual partem as sementes que desejam se constituir nos espíritos humanos autoconscientes.
Somente no campo de cultivo da materialidade é que tal semente do espírito consegue amadurecer, para tornar-se um espírito humano autoconsciente, igual ao grão de trigo que no campo de cultivo transforma-se em uma espiga madura.
Sua penetração no campo de cultivo material, porém, só é possível quando este tiver atingido certo grau de desenvolvimento, que corresponde à constituição do espiritual, que está situado no ponto mais elevado de toda a Criação.
É aquela época em que a Criação produz o corpo animal desenvolvido ao máximo, no qual um maior desenvolvimento através da alma animal proveniente do enteal não é mais possível.
Uma pequena cópia, uma repetição desse grande fenômeno universal, por exemplo, constitui mais tarde, sempre de novo, também o nascimento terreno da alma humana, da mesma forma, aliás, que em um ser humano, como coroa da Criação, portanto, como a criatura mais elevada criada, reflete-se todo o fenômeno universal. Uma alma humana também só pode penetrar no corpo infantil em formação no ventre materno quando esse corpo tiver atingido uma bem determinada maturidade. Antes, não. Só o indispensável estado de maturidade abre à alma o caminho para a penetração. Esse momento encontra-se no meio de uma gestação.
Assim, igualmente, no grande fenômeno universal, a época do desenvolvimento máximo do corpo animal também ocorre no meio, isto é, na metade do circular orbital de toda a materialidade! O leitor preste bem atenção nisso.
Uma vez que nesse ponto o enteal da alma animal tinha outrora atingido o máximo no desenvolvimento do corpo da materialidade, ele abriu automaticamente nessa circunstância, então, o caminho para a penetração do espiritual, situado acima dele!
A semente espiritual, agora como o mais ínfimo em sua igual espécie espiritual, por sua vez, só poderia entrar na obra-prima máxima do enteal situado abaixo dela, portanto, no corpo animal desenvolvido ao máximo por este.
Nesse penetrar, por sua constituição superior, toma naturalmente logo nas mãos a direção de tudo, e pode então conduzir o corpo por ela habitado, bem como todo o seu ambiente terreno, ainda a um desenvolvimento contínuo, o que o enteal não teria conseguido. Com isso se desenvolve, de modo totalmente natural, concomitantemente também o espiritual.
Assim o breve quadro de todos os fenômenos na Criação, cujas minúcias exatas ainda darei em dissertações posteriores, até em todas as mínimas partes.
Nós pertencemos à primeira de todas as partes desse círculo de materialidade, encontramo-nos como os primeiros no primeiro plano na ponta de seu circular. Antes de nós, nada houve de espécie semelhante, porém, depois de nós, será eterno.
Portanto, a parte, à qual também nós pertencemos, passa, antes de todas as demais, por todos os acontecimentos pela primeira vez. É por isso, também, que a Terra tem um papel especialmente importante, porque nela, como corpo celeste grosso material mais maduro, têm de se efetuar todos os acontecimentos universais incisivos.
Não é, portanto, ainda nenhuma repetição o que agora vivenciamos, e o que ainda está diante de nós. Nem, por acaso, algo já ocorrido nos acontecimentos universais! —
Voltemos à primeira entrada dos germens de espíritos humanos nesta materialidade, portanto, na metade do circular orbital da materialidade. Os animais de outrora, desenvolvidos ao máximo, que hoje são erroneamente denominados como seres humanos primitivos, extinguiram-se. Deles, apenas foram conduzidos ao aprimoramento aqueles corpos, nos quais haviam penetrado germens espirituais, em lugar das almas enteais de animais. Os germens espirituais amadureceram neles em múltiplas vivências, elevaram o corpo animal até o corpo humano agora por nós conhecido, dividiram-se em raças e povos. – O grande pecado original havia ficado para trás. Foi a primeira ação de decisão espontânea depois da autoconscientização dos germens espirituais, consistiu em colocar o intelecto acima do espírito, e deixou crescer o pecado hereditário de graves conseqüências, que mui rapidamente produziu os frutos ocos do domínio do intelecto, de modo nítido e facilmente reconhecível. O pecado hereditário é também o cérebro unilateralmente desenvolvido, devido à atividade unilateral do intelecto, que como tal se transmite constantemente por hereditariedade. Já muitas vezes me referi a esse fato, *(Dissertação Nº 9: Pecado hereditário) e com o tempo ainda falarei disso muito mais minuciosamente. Certamente, também ainda haverá pessoas que, mediante a direção assim indicada, poderão cooperar alegremente nessa grande obra de esclarecimento.
Incessantemente o circular orbital seguiu seu percurso. A humanidade, porém, desviando-se, ocasionou paralisação e confusão no progresso necessário. Em meio à confusão, o povo judeu caiu sob o conhecido pesado jugo dos egípcios. A aflição e o forte anseio pela libertação permitiram que as almas amadurecessem mais rapidamente. Por essa razão, eles tomaram espiritualmente a dianteira de todos os outros, porque, devido a essa forte comoção de intuições livres de conotação sexual, olharam de maneira certa, antes de tudo, para dentro de si mesmos e também para as almas de seus opressores! Depois de intuírem com clareza que tudo quanto é terrenal e mesmo a mais aguçada inteligência do intelecto não podiam mais ajudar, com o que reconheceram igualmente o vazio de suas almas, o olho espiritual aprendeu a ver com mais nitidez, e lentamente surgiu por fim um conceito da divindade, propriamente, mais verdadeiro e elevado do que até então o tinham tido. E as orações perpassadas pela dor elevaram-se novamente com mais intensidade às alturas.
Por esse motivo, o povo judeu pôde tornar-se o povo convocado, aquele que se encontrava espiritualmente na dianteira dos demais, por haver tido uma concepção, a mais pura até então, do conceito da divindade. Tanto quanto era possível naquele tempo, dado o grau de maturidade da alma humana.
Peço não confundir maturidade espiritual com saber aprendido, mas sempre de novo lembrar que cheio de espírito equivale a cheio de alma!
A máxima maturidade espiritual de outrora dos judeus, pois, capacitava-os também a receber por intermédio de Moisés uma vontade clara de Deus sob a forma de leis, que significavam o maior tesouro para o desenvolvimento contínuo, proporcionando o melhor e o mais forte apoio.
Como o fenômeno universal, de maneira bem natural, somente se concentrará sempre no lugar de maior maturação, assim ele se centralizou outrora, pouco a pouco, nesse povo humano judeu que espiritualmente amadurecia cada vez mais. —
Mas aqui, por sua vez, o fenômeno universal não deve ser confundido com a história mundial terrena, que se acha muito distante do fenômeno universal propriamente, e que reproduz, na maioria das vezes, apenas os efeitos do livre-arbítrio do espírito humano, tantas vezes aplicado erradamente, e o qual sempre lança somente muitas pedras no verdadeiro fenômeno e gera com isso muitas vezes torções transitórias e confusões terrenas.
O povo judeu achava-se, naquele tempo, na dianteira dos demais em seu culto religioso e em sua concepção, com isso, também mais próximo da Verdade.
A conseqüência lógica disso foi que, reciprocamente, a anunciação de uma encarnação proveniente da Luz também tinha de vir somente por esse caminho, o qual, por ser o mais certo, podia chegar até a proximidade mais imediata. Os outros caminhos, devido à sua maior distância da Verdade, não podiam estar livres para tais possibilidades, porque se perderam em erros.
Por sua vez, segundo a lei da igual espécie, absolutamente indispensável para um atuar, nem era possível de outra maneira, senão que um portador da Verdade, proveniente da Luz, na sua encarnação, somente pudesse seguir aquele caminho, que se encontra absolutamente mais próximo dessa Verdade, que vem o máximo ao encontro dela em sua semelhança. Somente isso dá um apoio indispensável, atrai, ao passo que as concepções falsas repelem e fecham sistematicamente um caminho para a penetração e a vinda proveniente da Luz.
A lei da reciprocidade e a da igual espécie têm de chegar, também aqui, necessariamente ao pleno valor. As leis primordiais abrem ou fecham um caminho em seus efeitos uniformes e imutáveis.
A circunstância fornece, ao mesmo tempo, naturalmente, a comprovação para o fato de que o povo, no qual Cristo foi encarnado, como o grande portador da Verdade, tinha que ter a visão mais pura do divino e de sua atuação, que, portanto, todas as demais religiões existentes naquela época não chegaram tão perto da Verdade. O budismo, por exemplo, não esteve e não está, por conseguinte, tão perto da Verdade, mas engana-se em muitas coisas. Pois as leis na Criação não mentem. Em uma calma reflexão, cada um deve, por isso, chegar ao caminho certo, sendo logo tirado de sua hesitação. —
Quando, porém, nesse ínterim, também entre os judeus iniciou-se de novo o domínio do intelecto na religião e criou ambição ignóbil, auxiliou então novamente o pesado punho dos romanos, para que permanecesse ainda um pequeno grupo em legítimo reconhecimento, a fim de que o Verbo pudesse ser cumprido.
Os meus ouvintes devem se esforçar em ocupar-se uma vez de modo mais profundo e abrangente com o efeito das leis da necessária igual espécie para a atuação, bem como o da reciprocidade e da gravidade, imaginá-lo em todas as direções, procurar nelas todas as minuciosidades. Logo reconhecerão nisso o que mantém e abrange tudo, bem como o que é vivo. Equipados com essas chaves, orientar-se-ão rapidamente em qualquer acontecimento. Eles devem perceber que é realmente a chave universal, com a qual podem abrir qualquer portal. Não através de fantasia e mística desnecessárias, mas com o olhar claro do reconhecimento sem lacunas. —
Da mesma forma que um gérmen espiritual, em sua espécie ainda não desenvolvida, porém, sempre mais elevada, só pode penetrar em uma parte do Universo que se encontra em condições adequadas, jamais, porém, em uma por demais imatura para isso, tampouco em uma demasiadamente madura para tanto, como o é hoje nossa parte do Universo, onde só podem viver ainda almas que já tenham se encarnado várias vezes, diferente não é o acontecimento na encarnação de um portador da Verdade, proveniente da Luz. Sua vinda só pode ocorrer na parte da humanidade mais amadurecida para isso. As condições de todas as leis tinham de ser cumpridas da forma mais severa no caso do emissário proveniente do divinal. Só poderia ter sido encarnado, portanto, naquelas concepções que se aproximassem ao máximo da Verdade.
Assim como o gérmen espiritual só pode penetrar na materialidade depois que o enteal tiver chegado ao seu ponto supremo no atuar, onde sem o penetrar do gérmen espiritual tem de ocorrer uma estagnação e com isso um retrocesso, da mesma forma foi atingido, antes da vinda de Cristo, um ponto aqui na matéria em que o espiritual, na perdição devido ao pecado hereditário, não podia progredir mais! O livre-arbítrio que reside no espiritual, ao invés de favorecer tudo quanto existe, havia impedido o desenvolvimento em direção ao alto, desejado na Criação, dirigiu todas as suas faculdades, mediante soerguimento do intelecto, unilateralmente só para o que é material. Este era um momento de maior perigo!
O enteal, sem a posse do livre-arbítrio, havia realizado mui naturalmente o desenvolvimento da Criação, portanto, com acerto, segundo a divina vontade do Criador. O espiritual, no entanto, com o seu livre-arbítrio, tornara-se incapaz para isso pelo pecado original, trouxe somente confusão e retardo no desenvolvimento contínuo da matéria. A utilização errada do poder a ele concedido para dirigir a força criadora divina, como indispensável progresso na materialidade amadurecida, teve até de levar à queda, ao invés de ao desenvolvimento máximo. Através do pecado original, o espírito humano retardou de modo violento toda verdadeira evolução progressiva; pois conquistas técnicas terrenas não são propriamente um progresso no sentido do fenômeno universal desejado por Deus! Por isso, fez-se necessário o auxílio mais urgente, a intervenção do próprio Criador!
Cada século seguinte teria aumentado o mal de tal modo, que uma possibilidade de caminho para auxílio divino ficava com o tempo totalmente excluída, uma vez que o domínio do intelecto teria interceptado, pouco a pouco, totalmente qualquer compreensão de tudo o que é realmente espiritual e, ainda mais, do que é divinal. Teria faltado então qualquer base de ancoragem para uma encarnação vinda da Luz!
Por isso, tinha que se agir rapidamente, porque ainda não havia chegado o tempo do Filho do Homem, o qual, naquela época, já se encontrava no desenvolvimento para sua missão.
Devido a essa urgência, originou-se o grande mistério divino, que Deus, em prol da Criação, fez o sacrifício de mandar à Terra uma parte da divindade, a fim de trazer Luz aos que se perderam!
Esta vinda de Cristo ainda não estava prevista no começo!
Somente a utilização errada do livre-arbítrio pela humanidade no pecado original e suas conseqüências tornaram necessária a intervenção divina, contrária à Sua vontade original! O enteal na matéria tinha cumprido sua missão na evolução da Criação, o espiritual mais elevado, porém, falhou totalmente através dos seres humanos! Pior ainda até; pois utilizou a força de resolução a ele concedida diretamente em sentido contrário, e tornou-se com isso hostil à vontade divina, com a Sua própria força, entregue ao espiritual para utilização. Quão grande é a culpa, o próprio ser humano pode imaginar.
O nascimento de Cristo não foi, portanto, cumprimento das promessas e revelações que prometeu aos espíritos humanos, como presente de Deus, o eterno mediador! Mas foi um ato de emergência divino para toda a Criação, que estava sob a ameaça de ser minada pelo espírito humano em perdição.
Isso acarreta também que a parte divina, outrora encarnada em Jesus de Nazaré, tenha de reingressar completamente para o Pai, para o divino, conforme o próprio Cristo tantas vezes acentuou. Tem de se tornar novamente um só com Ele. Esse fato comprova também que ele não pode ser o prometido mediador eterno entre Deus e a Criação, não o Filho do Homem, para isso prometido!
Este é o último progresso para a Criação, ele é, desde sempre, previsto somente para o final da primeira parte da materialidade, quando então a Criação deve movimentar-se de acordo, com o Filho do Homem na vanguarda como eterno mediador, o qual, com isso, é e permanecerá simultaneamente o servo mais elevado de Deus. Cristo, o Filho de Deus, foi uma parte do divino e, por isso, tinha de reintegrar-se totalmente no divino. O Filho do Homem é o servo executante de Deus, que é enviado do divino, porém, que nunca mais poderá reintegrar-se totalmente na divindade, por ter recebido como propriedade inseparável, além da origem divina, também o puro espiritual. Esse o retém da constante reintegração no divino. Somente com isso cumpre-se então aquela revelação da promessa do eterno mediador entre Deus e a Sua Criação, à qual, pois, a humanidade também pertence. —
Assim é o decurso dos acontecimentos universais até o fim. Um resulta bem naturalmente do outro. Se o pecado original tiver sido compreendido corretamente e, subseqüentemente, esta vinda não predeterminada de Cristo tiver sido compreendida como um ato de emergência, então não será difícil a compreensão do restante, e todas as lacunas preenchem-se por si mesmas. As questões não solucionadas são eliminadas.
Somente através da mensagem de Cristo é que os portais do Paraíso foram abertos aos espíritos humanos amadurecidos. Até aí ainda não existia a faculdade de compreender com acerto o caminho até lá. Porém, ela devia perder-se novamente em caso de demora, devido ao desvio dos espíritos humanos, caso não tivesse vindo auxílio imediato. A mensagem destinava-se aos seres humanos terrenos, bem como aos falecidos, como cada mensagem de Deus, cada palavra da Verdade luminosa!
As criaturas humanas nela ouviram, depois da severidade das leis, também de um amor, que até então ainda não teriam podido compreender, mas que deveriam dali por diante desenvolver em si. Por essa mensagem de amor, contudo, as leis não foram derrubadas, pelo contrário, apenas ampliadas. Elas deveriam permanecer como aquela base firme, cujo efeito encerrava em si tal amor. —
Sobre essa palavra do Filho de Deus procurou-se também edificar mais tarde, mas já apontei no início da minha dissertação os erros que aí se originaram devido a inúmeras falsas pressuposições. —
Contemplemos mais uma vez a história cristã. Pode-se tirar daí as melhores lições e, com isso, como por meio de um facho de luz, iluminar todas as religiões. Por toda parte encontramos os mesmos erros.
Cada um dos pequenos e grandes portadores da Verdade, sem exceção, teve de sofrer sob escárnio e zombaria, bem como sob perseguições e ataques dos queridos semelhantes, os quais, como também ainda hoje, sempre se julgavam demasiadamente inteligentes e sábios para aceitar, através de enviados de seu Criador, a explicação da vontade Deste, principalmente tendo em vista que esses enviados, de fato, nunca vieram das escolas superiores dessa humanidade!
Uma explicação da vontade divina é no fundo sempre apenas a interpretação do funcionamento de Sua Criação, na qual os seres humanos vivem, à qual eles pertencem. Conhecer a Criação, porém, significa tudo! Se o ser humano a conhece, então lhe é muito fácil utilizar-se de tudo quanto ela encerra e oferece. O poder utilizar, por sua vez, proporciona-lhe toda a vantagem. Assim, também em breve reconhecerá e cumprirá a verdadeira finalidade da existência e, beneficiando tudo, ascenderá rumo à Luz, para alegria própria e somente para bênção de seu ambiente.
No entanto, zombaram de cada mensageiro e com isso também da própria mensagem. Nem uma vez ocorreu que este lhes fosse bem-vindo, mesmo que realizasse o melhor. Ele sempre permaneceu um aborrecimento, o que, evidentemente, deixa-se facilmente explicar em face do intelecto tão hostil a Deus, e que testemunha por si a hostilidade a Deus. Cristo resumiu o acontecimento nitidamente na alusão do amo que enviou os seus servos a cobrar dízimos de todos os seus arrendatários. Mas, ao invés do pagamento, os seus servos foram meramente escarnecidos e fustigados, antes de serem mandados de volta com sarcasmo e de mãos vazias.
Disfarçando, denomina-se isso por sua vez de parábola. Em aprazível comodismo o indivíduo coloca-se sempre ao lado desses fatos, sem jamais referi-los a si próprio! Ou sente a necessidade de declarar que é parte de uma distinção de Deus, quando Seus enviados têm de sofrer assim, ao invés de considerar isso como um crime dessa humanidade, não desejado por Deus.
Como o intelecto necessita de lantejoulas e quinquilharias para encobrir sua estreiteza, que de outro modo se tornaria demasiadamente visível, empenha-se quase que obstinadamente em olhar com absoluto desprezo para a singeleza da Verdade, porque esta pode tornar-se-lhe perigosa. Ele próprio precisa de guizos sonantes na carapuça que veste. De muitas palavras pomposas, a fim de manter viva a atenção sobre si. E hoje mais do que nunca. Todavia, o desprezo à singela simplicidade da Verdade há muito já se transformou em medo. Pendura-se nessa necessária carapuça multicolorida de tolos mais e mais chocalhos sonantes, para que soem cada vez mais alto com as contorções convulsivas e os saltos, a fim de manter-se ainda algum tempo no trono usurpado.
Todavia, ultimamente tais saltos já se transformaram em dança do desespero, a ponto de se tornarem em breve a derradeira dança da morte! Os esforços tornam-se maiores, têm de se tornar maiores, porque o vazio perpassa cada vez mais nitidamente todo aquele chocalhar. E com o pulo forçado ao máximo, que se prepara, cairá finalmente a carapuça multicolorida da cabeça!
Então a coroa da Verdade singela se elevará irradiante e tranqüilizadora para aquele lugar que só a ela compete.
Os perscrutadores sinceros, completamente confundidos por tudo aquilo que se encontra tão grotescamente forçado a uma altitude dificilmente compreensível, encontram aí finalmente, para o olhar, o firme ponto de apoio, um amparo. Poderão assimilar plenamente, sem esforço, toda a Verdade, ao passo que até agora era preciso um grande esforço para encontrar apenas uma pequena partícula.
Voltar à simplicidade no pensar! Do contrário, ninguém poderá compreender plenamente o grande, e por isso jamais alcançá-lo. Pensar de forma simples como as crianças! Reside nisso o sentido da grande expressão: “Se não vos tornardes como as crianças, não podereis chegar ao Reino de Deus!”
O caminho para tanto jamais poderá ser encontrado com o pensar tão complicado de hoje. Também nas igrejas e nas religiões ainda não é diferente. Quando aí se diz que sofrimentos ajudam a ascender e que por isso constituem graças de Deus, fica com isso assim acolhido um pequeno grãozinho de Verdade, mas de maneira disfarçada muito deturpada. Pois Deus não quer sofrimentos de Seu povo! Quer apenas alegria, amor e felicidade! O caminho na Luz nem pode ser de outra maneira. E o caminho para a Luz também só apresenta pedras quando a criatura humana antes aí as coloca.
O grãozinho de Verdade na doutrina do sofrimento é que com o sofrimento pode ser remida alguma culpa. Mas isso só acontece lá, onde uma pessoa reconhece conscientemente tal sofrimento como merecido! Igual ao ladrão que implorou na cruz.
De modo insensato vive hoje todo o mundo. Também aqueles que falam de maneira tão inteligente sobre remições de carma. Enganam-se nisso, porque é muito mais difícil ainda do que imaginam esses pretensos sabedores. Pois efeitos retroativos de carma nem sempre constituem também as remições! A isso atente bem cada pessoa. Pelo contrário, nesse caso muitas vezes pode-se decair ainda mais profundamente!
Uma ascensão depende, não obstante os efeitos retroativos de culpa, exclusivamente da disposição interior de cada pessoa. De como manobra o grande leme dentro de si, se para cima, para frente ou para baixo, dessa maneira, e não diferentemente, seguirá, apesar de todas as experiências vivenciais!
Aqui se evidencia que ela não é nem pode ser um joguete, mas sim tem de dirigir o verdadeiro caminho unicamente pela força de seu livre-arbítrio. Nisso esse arbítrio permanece sempre livre até o derradeiro momento! Aqui cada pessoa é realmente seu livre senhor, no entanto, deve contar incondicionalmente com as... idênticas conseqüências de suas disposições, que a conduzem para cima ou para baixo.
Se, porém, manobra seu leme para cima, através de reconhecimento e firme vontade, então os maus efeitos retroativos atingem-na cada vez menos, efetivar-se-ão por fim nela até apenas de modo simbólico, porque já foi afastada dos planos inferiores de maus efeitos retroativos, devido aos esforços ascendentes, mesmo que ainda se encontre nesta Terra. Passam por baixo dela. Não é necessário, absolutamente, que uma pessoa tenha de sofrer, quando se esforça rumo à Luz.
Por isso, tirai a venda dos olhos, que foi colocada, para não tremer diante do abismo que desde muito se abriu. Tranqüilização transitória não é nenhum fortalecimento, significa tão-somente perda de tempo, que jamais poderá ser recuperado.
Até agora nunca se teve a explicação e fundamentação acertada para o sofrimento terreno. Por isso, apresentou-se paliativos como um narcótico, os quais, sempre de novo, são transmitidos irrefletidamente aos que sofrem, com palavras mais ou menos habilidosas. O grande erro unilateral de todas as religiões!
E quando alguém que procura de modo totalmente desesperado exige uma resposta demasiadamente clara, então, simplesmente se coloca aquilo que não se compreende no reino do divino mistério. Ali devem desembocar todos os caminhos de perguntas não solucionadas, como porto de salvação. Mas assim se revelam nitidamente como sendo os caminhos errados!
Pois cada caminho certo tem também um fim claro, não deve conduzir a impenetrabilidades. Lá, onde “imperscrutáveis caminhos de Deus” devam servir como explicação, ocorre uma fuga decorrente de inconfundível ignorância.
Para os seres humanos não precisa haver mistério na Criação, não deve haver; pois Deus quer que Suas leis, que atuam na Criação, sejam bem conhecidas pelos seres humanos, a fim de que possam orientar-se de acordo com elas e, por meio delas, completar e cumprir mais facilmente seu percurso pelo mundo, sem se perder na ignorância.
Uma das concepções mais fatais, porém, continua sendo o brutal assassínio do Filho de Deus como um sacrifício necessário em favor da humanidade!
Pensar que esse brutal assassínio do Filho deva reconciliar um Deus!
Uma vez que não se pode encontrar logicamente nenhum esclarecimento para essa estranha concepção, desta maneira as pessoas se escondem de modo embaraçado novamente atrás do tão freqüentemente utilizado muro de proteção do divino mistério, portanto, de um fenômeno que não pode se tornar compreensível a um ser humano!
No entanto, Deus é tão claro em tudo quanto faz. A própria clareza! Ele criou, pois, a natureza a partir de Sua vontade. Portanto, o que é natural tem de ser exatamente também o certo! Por ser a vontade de Deus absolutamente perfeita.
Mas o holocausto na cruz tem de ser antinatural a cada bom senso, por ser, além disso, injusto contra o Filho de Deus inocente. Nisso não há nem um contornar nem um esquivar-se. Seria, pois, melhor se a criatura humana confessasse uma vez, de modo sincero, que uma coisa dessa espécie é realmente incompreensível! Pode se esforçar como quiser, não chega aí a nenhuma conclusão, e não pode mais compreender seu Deus nesse caso. Todavia, Deus quer ser compreendido! Ele também o pode, porque a manifestação de Sua vontade reside claramente na Criação, nunca se contradizendo. São somente os seres humanos que se empenham em introduzir coisas incompreensíveis em suas investigações religiosas.
A penosa construção para o falso pensamento básico de um holocausto necessário com a morte na cruz já fica desfeita pelas palavras do próprio Salvador, na ocasião em que o crucificaram.
“Pai, perdoai-lhes; pois não sabem o que fazem!” Seria, pois, necessária essa intercessão, se a morte na cruz devesse ser um sacrifício necessário para a reconciliação? “Não sabem o que fazem!” é, pois, uma acusação da mais grave espécie. Uma indicação nítida de que está errado o que fazem. Que esse ato foi apenas um crime comum.
Teria Cristo rogado no Getsêmani que o cálice do sofrimento lhe fosse desviado, se a morte na cruz devesse ser um holocausto necessário? Nunca! Cristo não teria feito isso! Assim, porém, sabia que as torturas que o aguardavam eram apenas uma conseqüência do livre-arbítrio humano. E por isso seu rogo.
Cegamente passou-se diante disso durante dois milênios e irrefletidamente aceitou-se em troca o mais impossível.
De modo doloroso tem de se ouvir, mui freqüentemente, as opiniões de que os preferidos entre os atuais discípulos e discípulas de Jesus são agraciados com sofrimentos corpóreos, como, por exemplo, estigmas! *(Chagas)
Naturalmente, tudo isso decorre apenas dessa falsa interpretação dos sofrimentos terrenos de Cristo. Nem pode ser de outro modo. Quais as pesadas conseqüências pessoais que isso pode acarretar, quero ainda mencionar.
Quanta irreflexão se faz mister e que baixo servilismo, imaginar o Todo-Poderoso Criador do céu e da Terra de um tal modo, que pudesse agir dessa maneira! É, pois, sem qualquer dúvida, a mais pecaminosa degradação da sublime divindade, para cuja imaginação da essência o mais belo ainda não pode ser suficientemente belo, o melhor, só muito inferior, para com isso aproximar-se apenas um pouco da realidade! E julgam esse grande Deus capaz de exigir que o ser humano, o qual Ele criou, tenha de se contorcer em dores diante Dele, quando Ele o agracia?
Como poderá seguir-se a isso uma ascensão!
Os seres humanos formam o seu Deus conforme eles o querem ter, eles Lhe dão a direção de sua vontade! E ai Dele, se não for assim conforme pensam, então, sem mais nem menos Ele será recusado, assim como são recusados, combatidos, como uma prova, imediatamente aqueles que ousam ver Deus muito maior e mais sublime. Não há grandeza nas concepções humanas de até agora. Pelo contrário, atestam apenas a fé inabalável no valor próprio, por cuja benevolência um Deus tem de mendigar, de cujas mãos ensangüentadas foi-Lhe permitido receber de volta o Seu Filho, zombado e escarnecido, martirizado e torturado, que Ele outrora enviara em auxílio com a mensagem salvadora!
E ainda hoje se pretende sustentar que, para Deus, tudo isso foi um necessário sacrifício reconciliador? Quando o próprio Cristo, sob os seus tormentos, já totalmente desesperado diante dessa cegueira, clamou: “Eles, pois, não sabem o que com isso fazem!”
Existe, enfim, então ainda uma possibilidade de levar a humanidade para o caminho certo? Mesmo os mais graves acontecimentos sempre são ainda demasiadamente fracos para tanto. Quando, finalmente, o ser humano reconhecerá quão profundamente, na realidade, ele afundou! Quão vazias e ocas são as ilusões que criou para si!
Mas tão logo se perscrute apenas um pouco mais profundamente, então se encontra o egoísmo encapsulado na forma mais legítima. Embora se fale agora por todos os cantos de uma procura por Deus com palavras bombásticas, isto é mais uma vez uma grande hipocrisia na usual vaidade, à qual falta totalmente qualquer anseio realmente sincero pela Verdade pura. Procura-se apenas auto-endeusamento, nada mais. Pessoa alguma se esforça seriamente para compreender Deus!
Com sorrisos pretensiosos logo colocam rapidamente de lado a simplicidade da Verdade, sem dar atenção a ela; pois se julgam instruídos demais, elevados demais e importantes demais para que seu Deus ainda deva ocupar-se com o que é simples. Ele tem de ser muito mais complicado, para honra deles. Do contrário, pois, não vale a pena crer Nele! Como se poderia, segundo a acepção deles, reconhecer ainda algo que seja facilmente compreensível a cada ignorante. Algo assim não se pode tachar de grande. Hoje nem mais se deve ocupar com isso, senão torna-se ridículo. Deixai isso para as crianças, as mulheres velhas e os ignorantes. Não é, pois, para criaturas humanas de intelecto tão instruído, de tal inteligência, as quais são agora encontradas entre as pessoas cultas. O povo que se ocupe com isso! A cultura e a sabedoria só podem ser medidas com a escala de grandeza na dificuldade das possibilidades de compreensão! —
São ignorantes, porém, os que assim pensam! Não são dignos sequer de receber uma só gota d’água das mãos do Criador por intermédio da Criação!
Por limitação, privaram-se da possibilidade de reconhecer a grandeza deslumbrante na simplicidade das leis divinas! Eles são, no sentido literal, incapazes para tanto, ou, falando de modo bem claro, demasiado broncos, devido a seu cérebro unilateral tão atrofiado, que até hoje trazem consigo como um troféu das maiores conquistas, já desde a hora do nascimento.
Constitui um ato de graças do Criador, se Ele deixar que feneçam na construção que ergueram; pois, para onde se olha, tudo é hostil a Deus, desfigurado pela mórbida mania de grandeza de todos os seres humanos de intelecto, cuja incapacidade se evidencia aos poucos por toda parte.
E isso já vem crescendo desde milênios! Isso trouxe consigo inevitavelmente o envenenamento nas igrejas e nas religiões, uma vez que, como mal corrosivo, foi a conseqüência imprescindível daquele pecado original, onde o ser humano se decidiu irrestritamente a favor do domínio do intelecto.
E esse falso domínio sempre enganou as criaturas humanas a ele escravizadas, em tudo o que se refere ao divinal! E até mesmo em todo o espiritual.
Quem não derrubar dentro de si esse trono e assim libertar-se, terá de soçobrar junto com ele!
Já não se deve mais dizer pobre humanidade; pois eles são conscientemente culpados, como jamais a criatura pôde tornar-se culpada! A expressão: “Perdoai-lhes; não sabem mais o que fazem!” não é mais adequada à humanidade de hoje! Tiveram mais de uma vez a oportunidade para abrir os olhos e os ouvidos. Agem plenamente conscientes, e todo o efeito retroativo terá de atingi-los por isso na medida mais completa, integralmente! —
Portanto, quando se fechar o círculo de todo o acontecer de até agora, sobrevirá com isso para esta parte do Universo, pela primeira vez amadurecida em toda a Criação, o corte, a colheita e a separação. Nunca, desde a existência de toda a materialidade, isso aconteceu até agora; pois a nossa parte do Universo antecede a todas as demais no eterno circular, como a primeira que deve passar por isso!
Por isso também, há dois mil anos, o Filho de Deus foi encarnado nesta Terra. Foi um acontecimento universal, que sucedeu na parte mais madura, na primeira parte de toda a materialidade, mas que nunca virá a se repetir; pois nas partes seguintes sempre continuará se efetivando o aqui acontecido. Assim também acontecerá que esta parte, como primeira, entrará em um novo acontecimento, que nunca existiu antes, mas que, depois de nós, repetir-se-á sempre. É um desfazer-se da materialidade formada, que traz consigo o superamadurecimento em acontecimento natural. —
Está consumado! Mostrado o caminho para a Luz e, com isso, para a vida eterna do espiritual pessoal! Os próprios espíritos humanos podem refletir agora, na última hora para uma decisão, qual o caminho que querem seguir: para a condenação eterna ou para a alegria eterna; pois têm, conforme a vontade divina, a livre escolha para isso!